O meu lado lunar
O meu pai usa muito a expressão “és mesmo de luas”.
Talvez ele não saiba que é mesmo assim. Talvez ele não saiba que a mulher é feita de fases, que a mulher é feita de ciclos. Talvez ele o diga até como critica mas, por eu ter consciência que é tão verdade, não a vejo como tal.
Olhando para a lua, hoje é a transição de quarto minguante para lua nova. A lua fica pequenina, pequenina, pequenina, até desaparecer. Até ficar sem luz. Até morrer. E, assim, iniciar um novo ciclo de crescimento. Um novo. Um novo ciclo em que uma nova luz vai crescer.
Hoje, é isso que sinto. Uma parte de mim a ficar pequenina, pequenina, pequenina. Uma parte de mim a ficar silenciosa. Uma parte de mim a ficar com menos poder. Essa parte é o ego. Essa parte é a voz que quer sempre a todo custo assegurar a sobrevivência, o certo, o confortável. A parte de mim que está sempre à procura da falha, do que correu mal marcando-o como algo errado e tentando preveni-lo como proteção. Uma parte de mim que acredita que o que não deu certo no passado não dará certo no futuro. Uma parte de mim com medo de arriscar, com medo de ir atrás de sonhos, com medo de ser. Essa parte, aos poucos e poucos, talvez mês após mês, vai perdendo a força como a lua em transição de minguante para nova. E hoje é dia de fazer luto. É dia de deixar cair as lágrimas. Dia de me perdoar por ter ficado anos com tanto medo, com tanta rejeição, com tanta crença de que nunca mais seria capaz, de que nunca mais queria tal na minha vida.
Dia de, mais uma vez, ver que nada acontece por acaso, que tudo tem o seu tempo, e que há sempre um próximo nível para viver.
"Nothing in life is to Be fear. It's only to Be understood. Now is the time to understand more, so that we may fear less." @MarieCurie
21.05.2020